A questão da capacitação tecnológica se resolve com certa tranquilidade, mas a educação profissional, integral, essa tem sido bem mais desafiadora.
Tenho conversado sistematicamente com muitos agentes do mercado de TIC, ora falando com líderes técnicos, ora falando com os gestores, com o pessoal de RH ou com os empreendedores desse mercado. Em todas as conversas, uma observação tem sido sempre presente nas discussões sobre a formação de profissionais para a área: a capacitação técnica – o conhecimento das ferramentas, tecnologias e plataformas -, se resolve com um pouco mais ou um pouco menos de esforço, mas a formação e o desenvolvimento do “humano-profissional” tem sido cada vez mais desafiadora.
Uma das questões que exemplifica essa demanda é a definição cada vez mais ampla dos papéis e “jobs” da turma de TI. Se antes se aceitava um profissional que só trabalhava isolado, que não se comunicava bem e não desenvolvia suas competências sociais e de relacionamento, hoje em dia – na esmagadora maioria das vezes – esse perfil não cabe mais.
Espera-se de um profissional de TIC muitas competências não técnicas como, por exemplo, a capacidade de negociar, de ouvir e traduzir desejos em soluções baseadas em tecnologias, a capacidade de criar, inovar e pensar fora da caixa, a de trabalhar em time ou equipe, a de comunicar-se bem, com clareza e por vezes em mais de um idioma … entre tantas outras.
Aí cabe uma questão: é possível educar para essas competências não técnicas? E ainda, é papel da faculdade ou universidade colaborar com essa formação?
Em minha opinião, as respostas são retumbantes “sim e sim”, com uma importante ressalva: é possível, mas não no modelo tradicional das aulas exclusivamente expositivas.
As competências pessoais, sociais e os valores humanos não podem ser ensinados ou aprendidos como um conteúdo, decorados, reproduzidos ou entendidos. Devem ser experimentados, vividos e testados, por isso o desafio é tão grande.
No ambiente escolar, especialmente no do ensino superior, esses valores devem ser promovidos e inseridos no cotidiano, nas relações, nos atendimentos, nas conversas e nas aulas, como um elemento ambiental, o pano de fundo de uma experiência. Mas, vale mais perceber que o ambiente proporciona toda essa vivência, do que entender as teorias que justificam e explicam essa percepção. Por isso, a proposta é a da “contaminação positiva”.
É preciso engajar toda a comunidade numa nova forma de conviver na escola, com base na comunicação de qualidade o que pressupõe ouvir e falar. Ainda, orientada a trabalhos em equipe, que exigem do aluno: negociar, convencer, persuadir, ceder e acordar crenças, planos e operações, caminhar junto e criar compromisso. É fundamental estabelecer um relacionamento respeitoso, mas ao mesmo tempo amplo, aberto e focado no coletivo. Isso garantirá proximidade, descoberta do outro, conquista de espaço, parceria e compromissos coletivos.
A aula expositiva tem seu papel, mas passa muito longe de proporcionar esse grande laboratório. Por isso, cada vez mais surgem modelos que suportam ações de desenvolvimento pessoal nessa linha, como a educação orientada a projetos e à resolução de problemas, os “maker spaces” e os laboratórios de criatividade. Todos promovem o aprendizado conceitual e o alcance do conteúdo, mas se diferenciam por justamente promover o convívio.
Pessoalmente, acredito que o foco e o compromisso com o desenvolvimento pessoal é o que diferencia a “capacitação tecnológica” da “educação para a tecnologia”.
Seguramente, educar é mais legal!
Mauricio Pimentel
Diretor Acadêmico da BandTec
Diretor Acadêmico da BandTec
http://www.bandtec.com.br/index.php/category/carreira/
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