sábado, 7 de junho de 2014

Em busca da alteridade

Em busca da alteridade


Por  
Graduado, especialista e mestre em Ciência da Computação pela UFSC. Professor dos cursos de Ciência da Computação, Sistemas de Informação e Comunicação Social e acadêmico do curso de Psicologia do CEULP/ULBRA.

Ser, somente, sem considerar, valorizar e, principalmente, respeitar o outro, não basta.  Para ser é necessário haver o outro, entender e se fazer entender, colocar-se no lugar do outro. Foi com esse entendimento que se deu o início de minhas atividades no Alteridade, núcleo do CEULP/ULBRA que assume a tarefa de auxiliar a instituição no oferecimento de um atendimento educacional especializado.
Sistematizar tudo aquilo das disciplinas de Psicologia Escolar, Intervenção da Psicologia na Educação, Psicologia da Aprendizagem com minha experiência pessoal como professor e aluno foi pouco para participar deste universo. Ainda mais considerando que o núcleo estava em seu início e o universo era pouco para nós.
Mas enfim, o estágio estava começando e muito havia para ser feito. Armei-me das referências teóricas destas disciplinas e de novas que se mostraram necessárias, uni-me aos colegas estagiários e às supervisões de meus professores e passei à ação.
Foram várias e diferentes as atividades desenvolvidas no período em que estagiei no Alteridade, passando da busca de um espaço físico na instituição que se adequasse à sua proposta até às discussões homéricas sobre o nome que o núcleo assumiria.
Assim, foram realizados os atendimentos individuais com alunos com as mais variadas dificuldades.
Dificuldades de ordem física, com alunos surdos, cegos, cadeirantes. Bom, não atuei junto a estes, ainda que tentasse me atrever a conversar em Libras (ou algo parecido) com alguns alunos surdos. Não sei se consegui, mas descobri que os surdos não se incomodam com nossas tentativas de comunicação. Eles a preferem ao nosso silêncio (fica a dica).
Dificuldades de ordem emocional, com alunos recém-saídos de suas cidades, que pela primeira vez ficam longe do seio da família, do conforto do lar. Ou que, ainda, se vêm perdidos perante o mundo de liberdades que a universidade lhes oferece.
Dificuldades de aprendizagem, originadas de um ensino médio frágil, da falta de um acompanhamento mais presente pelos pais, ou mesmo da falta de habilidade pessoal em conviver com o conjunto de responsabilidades que a universidade oferece (e cobra).
Dificuldades psicológicas, das mais diferentes formas e origens, que acabam refletindo no processo de aprendizado como um todo, pois envolvem relacionamentos interpessoais, lembranças doloridas da infância, momentos de angústia ou ansiedade que se refletem naquela fuga de um trabalho em grupo, de uma apresentação oral, de uma prova um pouco mais trabalhosa.
Dificuldades que nos dizem muito, pois como alunos que ainda somos sabemos o que é estar na posição do outro. E entender esta posição é grande parte do que a participação no Alteridade nos cobra em nossa atuação como estagiário. Ao final do processo, posso garantir: se auxiliamos alguém em sua caminhada na universidade, muito mais crescemos pessoalmente a cada atendimento realizado.
Mas, empolgante mesmo, é ver uma ou outra iniciativa tomando corpo e se agigantando perante as demandas que iam surgindo. Sim, porque basta você mexer em um vespeiro adormecido para descobrir que não é pouco nem pequeno o que se escondia ali. Aos poucos foram surgindo novas ideias e práticas, aprovadas pelos supervisores e postas em atividade pelos estagiários, monitores, professores e funcionários do Alteridade e que serão lapidadas com o tempo, como o Cine Alteridade, o Grupo de Discussão do Luto, as Oficinas de Mapas Conceituais, o Clube do Livro, o intercâmbio de ações com os laboratórios de Instrumentalização Científica e de produção Textual entre outras.
Muito foi feito. E, com certeza, ainda é pouco, pois muito mais ainda está por vir. Afinal,
se no passado o outro era de fato diferente, distante e compunha uma realidade diversa daquela de meu mundo, hoje, o longe é perto e o outro é também um mesmo, uma imagem do eu invertida no espelho, capaz de confundir certezas pois, não se trata mais de outros povos, outras línguas, outros costumes. O outro, hoje, é próximo e familiar, mas não necessariamente é nosso conhecido (Gusmão, 1999, p. 44-45).
E se é perante esta imagem do eu invertida que nos tornamos o que somos, o núcleo Alteridade proporciona o ambiente propício para realizar este encontro.

Referência:
Gusmão, N. M. M. (1999). Linguagem, cultura e alteridade: imagens do outro. Cadernos de Pesquisa (Fundação Carlos Chagas), n. 107, jul. 1999, 41-77.

http://ulbra-to.br/encena/2012/07/31/Em-busca-da-alteridade

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