quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A SALA DA QUIETUDE NA UMAPAZ

A SALA DA QUIETUDE NA UMAPAZ

A Universidade Aberta do Meio Ambiente e da Cultura de Paz ganhou no seu quinto aniversário, em janeiro de 2011, a Sala da Quietude, com dois singelos propósitos. Um deles é simplesmente oferecer um lugar de quietude para os alunos, professores, funcionários e visitantes. É um espaço de silêncio, de diálogo interior. Nessa pequena sala cada um pode ficar quieto ao seu modo, meditando, orando, concentrando sua mente ou, ao contrário, navegando em seus pensamentos, para que possa emergir tranquilizado e revigorado desses momentos.



Outro propósito da Sala da Quietude é ser um lembrete contínuo de que a quietude é uma atitude ativa, consciente, e que é parte do ensino-aprendizagem na perspectiva da ecopedagogia.



Edgar Morin nos diz que é preciso aprender “a estar aqui” neste Planeta. Aprender a estar aqui com reverência à vida e num momento da história da Terra e da espécie humana em que as mudanças climáticas impõem novas formas de estar aqui. Esse mestre e outros visionários alertam, há décadas, que é preciso desenvolver novos saberes para esse momento singular da história.



Os seres humanos são protagonistas da história não apenas porque podem contá-la e recontá-la, mas porque desenvolveram suas potencialidades e capacidade de criar e de interferir em muitos fenômenos. Qualquer que seja a parte que nos toca nas causalidades das mudanças climáticas, mais importa é que temos ciência e consciência da situação, de seus prognósticos e de possibilidades de mitigação e adequação.



Nos últimos cem anos aprendemos como viver mais e como usufruir mais conforto. Criamos tecnologias para isso e passamos a consumir o Planeta como se estivéssemos num supermercado com reposição automática, desprezando os ciclos da natureza, que julgamos dominar. Um supermercado onde uma pequena parte consome a maioria dos produtos e os que estão de fora anseiam avidamente por entrar. E temos transmitido esse ávido anseio de consumo e de conforto ilimitado às nossas sucessivas gerações, ao custo de produzir mais desigualdade e riscos socioambientais.



A escola tradicional tornou-se um espaço de treinamento para que as novas gerações reproduzam esse paradigma, essa busca frenética, barulhenta, uma verdadeira luta para chegar na frente ao supermercado e ter dinheiro suficiente para alcançar o padrão máximo de conforto – aquele a que têm acesso os vinte por cento mais ricos que consomem oitenta por cento das riquezas.



A humanidade está sendo confrontada com a impossibilidade de prosseguir nesse jogo, porque já está consumindo a expectativa de oferta futura e as crises de abastecimento de água e comida sinalizam que se estenderão para além dos pobres do mundo. Os eventos climáticos extremos se multiplicam, gerando milhões de refugiados do clima e mostrando o risco efetivo a que toda a espécie humana está submetida.



A educação socializa, prepara para a vida. No cenário atual, como ousamos manter uma educação para a morte?



Há algum tempo cientistas educadores vêm alertando para a necessidade de mudança de paradigma. Dentre os novos saberes necessários à educação do futuro, apropriada à cultura da sustentabilidade e da paz, Moacir Gadotti inclui “educar para a simplicidade e para a quietude.”



As duas questões certamente não estão juntas por acaso. Simplicidade diz respeito a necessidade de rever o padrão de conforto que tem servido para alimentar uma profunda desigualdade social e o desastre socioambiental. Essa necessidade dialoga com teses socialistas e ambientalistas, carreia novos argumentos e torna-se uma premissa de sobrevivência. Dialoga também com linhas educacionais que trabalham a sustentabilidade de todos e para todos, compreendendo a teia da vida, os ciclos da natureza, promovem a resiliência das pessoas e da espécie frente às crises e resgatam a alegria de viver e conviver como necessidades básicas.



E como compreender a simplicidade sem a quietude?



É preciso sair do burburinho do supermercado, dos anúncios de vendas que obnuliam a capacidade crítica. É preciso aquietar-se para perceber o valor dos seres e das coisas. É preciso aquietar-se para escutar a vida, a natureza, as nossas necessidades, as necessidades dos que conosco convivem. Na quietude preparamos o diálogo. É preciso aquietar-se para entrar no ritmo do coração, na pulsação do universo, na pulsação do conjunto diverso e uno de homens e mulheres de toda a parte e das outras espécies que compartilham conosco a vida no Planeta. É preciso quietude para acolher o sofrimento e os sonhos. Para recuperar o equilíbrio frente aos desastres. É preciso aquietar-se para olhar com novos olhos a situação e seus prognósticos e ativar a criatividade e o engenho humanos para sustentar a vida de todos e para todos.



Vejo homens e mulheres aquietando-se para gerar uma nova civilização. Homens e mulheres que reaprendem a se aquietar e, com isso, reaprenderão também a brincar, dançar, conviver, amar a diversidade e reinventar o estar aqui no Planeta.

São Paulo, verão, 2011

Rose Marie Inojosa



¹UMAPAZ, Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente de São Paulo, Av.IV Centenário, 1268, Parque do Ibirapuera, São Paulo. www.blogumapaz.blogspot.com

²MORIN, Edgar Os sete saberes necessários a educação do futuro, São Paulo: Cortez, 2000

³GADOTTI, Moacir A Ecopedagogia como pedagogia apropriada ao processo da Carta da Terra, in www.ufmt.br/revista/arquivo/.../moacir_gadotti.htm

4Diretora da UMAPAZ. rinojosa@prefeitura.sp.gov.br

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