sexta-feira, 29 de março de 2013

A Sincronicidade – uma conexão acausal



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Escrito por Caio Fábio Schlechta Portella   
Sex, 14 de Agosto de 2009 00:14
Uma das construções teóricas mais profundas de Carl Gustav Jung, pai da psicologia analítica, foi baseada em um tipo de observação comum a todos nós, pelo menos em algum momento da vida, é o conceito de sincronicidade.
Sincronicidade é um conceito sutil, ela é inerente a todo o universo, é um principio ordenador da realidade, algo que esta por traz das coisas, uma conexão dos elementos psíquicos/abstratos com a realidade Física.
Um exemplo simples de sincronicidade pode ser encontrado no livrosincronicidade: um princípio de conexões acausais, do próprio Jung. Neste livro, entre muitas outras coisas, ele fala de uma série de acontecimentos que vieram depois de ter um sonho com um peixe, este peixe aparece no decorrer do dia em uma série enorme de “coincidências” que não tem nenhuma ligação física que justificasse um evento desencadear o outro.
Estas coisas estatisticamente impossíveis, como por exemplo: você lembrar-se de uma pessoa e de repente ela te liga, ou então pensar em alguma coisa e de repente ela aparece na sua frente, seriam ligações sincronísticas.
Jung define sincronicidade como “coincidência significativa”, este termo expressa bem o que liga os eventos sincronísticos - diferente de sincrônico, pois sincrônico é algo que ocorre ao mesmo tempo, sincronístico é relativo ao tempo como veremos adiante.
Jung usa de algumas definições que abrangem o termo:
“Emprego, pois, aqui, o conceito de sincronicidade, no sentido especial de coincidência, no tempo, de dois ou vários eventos, sem relação causal, mas com o mesmo conteúdo significativo...” (JUNG, OBRAS COMPLETAS, VIII, par. 849)
“... a simultaneidade de um estado psíquico com um ou vários acontecimentos que aparecem como paralelos significativos de um estado subjetivo momentâneo e, em certas circunstâncias, também vice-versa.” (JUNG, OBRAS COMPLETAS, VIII, par. 850)
“...um só e o mesmo significado (transcendente) pode manifestar-se simultaneamente na psique humana e na ordem de um acontecimento externo e independente.” (JUNG, OBRAS COMPLETAS, VIII par.905)
“Um conteúdo inesperado, que está ligado direta ou indiretamente a um acontecimento objetivo exterior, coincide com um estado psíquico ordinário.” (JUNG, OBRAS COMPLETAS, VIII, par. 855)
Resumindo:
Uma coincidência de um estado psíquico com um evento externo objetivo simultâneo, uma coincidência de um estado psíquico com um evento externo simultâneo, mas distante no espaço, e uma coincidência de um estado psíquico com um evento externo distante no tempo.
Assim estes eventos são relativos ao espaço-tempo, posso, por exemplo, sonhar com algo que acaba acontecendo dias depois, o significado, o símbolo emerge na realidade, sendo o sentido o fator desencadeador.
 Jung propõe Juntamente como Prof. W. Pauli, físico, um quaternário que satisfaz os postulados da física moderna e ao mesmo tempo da psicologia analítica:
 
Figura1: A realidade e a Sincronicidade (Fonte: JUNG, 1971)
 
Nesta figura a sincronicidade age de forma complementar a causalidade – este termo está ligado com causa e efeito, uma cadeia de fenômenos que podemos prever acompanhar, como por exemplo: se jogo uma bola no ar e sei sua velocidade, as características do material, peso etc.. Posso prever onde ela vai cair, isso é uma relação causal.
Uma relação acausal implica em uma diferente natureza para a mente e para os fenômenos relacionados a ela, este é o questionamento da Física moderna, a chamada Física quântica, que por conta das descobertas, teve que considerar a possibilidade da consciência interagir como parte integrante na formação da realidade que chamamos de realidade física, a matéria.
Sendo o sentido o “fator desencadeador” dos fenômenos sincronísticos, Jung coloca o questionamento de que estamos acostumados a perceber o sentido como algo dentro da nossa mente, um processo ou um conteúdo psíquico, assim é difícil imaginar, como acontece no caso da sincronicidade, que o sentido possa estar em um acontecimento externo. Para um fenômeno ser considerado sicronístico, este deve ser totalmente acausal, ou seja, não pode haver uma ligação nem se quer imaginável de uma cadeia de fenômenos que levasse o evento psíquico ao acontecimento.
Vários experimentos foram feitos Joseph Banks Rhine (pesquisador americano pioneiro em pesquisas sobre parapsicologia). Estes experimentos ajudaram muito Jung a definir sua teoria, e por conta deles Jung percebeu a influência da sincronicidade nos seus experimentos sobre astrologia. Nesses experimentos, os resultados se ordenavam de forma diferente dependendo da sua postura, do que ele esperava e de seu estado de espírito.
Essa unicidade, essa ligação devolve à ciência um sentido mais profundo, perdido com o materialismo cartesiano, e dá à Psicologia um panorama muito mais amplo, possibilitando uma ponte com a Filosofia, a Física e a Biologia, enriquecendo nossa compreensão do mundo e devolvendo o sentido de uma forma mais harmônica à vida das pessoas.


Caio Fábio Schlechta Portella - Naturólogo

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